Para não esquecer...

SONS * 3. a truta

No próximo dia 19 completam-se 178 anos sobre a morte do compositor austríaco/vienense Franz Schubert.

O talento de Schubert manifesta-se particularmente no lied. Num folheto da Gulbenkian, explicativo do programa de um concerto realizado no auditório da Fundação no passado dia 31 de Janeiro e dedicado ao compositor, escreve-se:

A necessidade de exprimir a sua sensibilidade intensa levou Franz Schubert a canalizar grande parte da sua energia criativa para o lied. O compositor concebia este género musical como aquele que, antes de mais, permitia a expressão e reflexão natural dos sentimentos humanos, marcando, com a ênfase nesse aspecto, um afastamento em relação às anteriores abordagens a este género.
A truta é seguramente um dos lieder de Schubert mais conhecido. E exemplo de como o compositor consegue encantar o ouvinte tão... facilmente. Do referido folheto:
Die Forelle [A Truta] ostenta uma música de grande vivacidade, manifestada no carácter do acompanhamento do qual se destacam os movimentos em sextinas (de que faz uso sobretudo a mão direita) e na melodia saltitante que ilustra a truta a brincar no regato e a chegada de um pescador. Coincidindo com o momento dramático da captura da truta, a peça muda de forma súbita o seu carácter. Assim, este lied constitui um exemplo claro de alguns dos procedimentos tipicamente schubertianos, como a exploração de contrastes de tonalidades para sublinhar sentimentos ou ambientes distintos (neste caso realizando o percurso modo maior – modo menor), e de um suporte pianístico indispensável para a ênfase desses mesmos sentimentos.
Com a música, deixo-lhe a letra original
[para que possa acompanhar o barítono Dietrich Fischer-Dieskau, acompanhado ao piano por Gerald Moore]
e a tradução, da responsabilidade da Gulbenkian:

Die Forelle
(Christian Schubart)

In einem Bächlein helle,
Da schoss in froher Eil
Die launische Forelle
Vorüber wie ein Pfeil.
Ich stand an dem Gestade
Und sah in süsser Ruh
Des muntern Fischleins Bade
Im klaren Bächlein zu.

Ein Fischer mit der Rute
Wohl an dem Ufer stand,
Und sah's mit kaltem Blute,
Wie sich das Fischlein wand.
So lang dem Wasser Helle,
So dacht ich, nicht gebricht,
So fängt er die Forelle
Mit seiner Angel nicht.

Doch endlich ward dem Diebe
Die Zeit zu lang. Er macht
Das Bächlein tückisch trübe,
Und eh ich es gedacht,
So zuckte seine Rute,
Das Fischlein zappelt dran,
Und ich mit regem Blute
Sah die Betrogene an.
A Truta

Num límpido riacho,
Movia-se alegremente
A truta caprichosa,
Rápida como uma flecha.
Da margem eu seguia,
Em doce tranquilidade,
O banho do alegre peixe
No riacho transparente.

Um pescador com a sua cana
Colocou-se na margem,
Olhando, com sangue-frio,
Os serpenteios do peixe.
Enquanto a água estiver clara,
pensei eu,
Ele não apanhará a truta
Com o seu anzol.

Mas, por fim, o ladrão,
Impacientou-se. Perfidamente
o ribeiro turvou,
E num instante,
A sua cana estremeceu,
Com o peixe a debater-se nela,
E eu, com o sangue a ferver,
Olhei a criatura enganada.


escrito por ai.valhamedeus

2 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Sehr schön, "Gott sei dank"!

Abraço
MF

Anónimo disse...

Muito obrigada! Vou cantar esta música e precisava da tradução!
Sou do Brasil e faço faculdade de música. Saudações! Karina